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sábado, 4 de setembro de 2010

Ideias Geniais para enriquecer os dias de preguiça


Jane Souto Ourem, professora do Recife, começava a temer o verão. Os filhos, Maíra, 13 anos, Antônio Augusto, 9, e Pedro Augusto, 7, estavam sempre resmungando pela casa: "Que chato, mamãe. Todo ano é a mesma coisa". Acabavam assistindo à TV ou ao vídeo, reclamando de tudo. Jane, frustrada diante da inércia deles, procurava soluções.

- Por que não lêem um livro? - sugeria.
- Leitura é coisa de colégio! - protestavam.
- Por que não vão brincar lá fora?
- Não tem nada para fazer.
- Por que não empinam uma pipa, garoto?
- Está muito calor!

E assim por diante. "Não aceitavam nenhuma sugestão", recorda Jane. "Sempre achavam minhas idéias desinteressantes. Então acabavam assistindo à TV durante horas a fio."

Com quatro filhos, de 10 e 14 anos, o problema era o oposto para Ana Cristina Lage, do Rio de Janeiro, diretora de uma creche. "Meu filhos jogam futebol, lutam jiu-jítsu e aprendem inglês. Meu caçula está tendo aulas de teclado. Mal nos vemos à hora do almoço."

As férias de verão apresentam às famílias dilemas e oportunidades. Para um grande número de crianças, esse é um período de passividade intelectual e de estagnação do desenvolvimento pessoal. Para outras - e seus pais - é ocasião de sobrecarga e planejamento frenético.

Em ambos os casos, observa o psiquiatra Salvador Célia: "Quando os pais programam tudo, as crianças perdem a autonomia e a criatividade. E os pais, a possibilidade do diálogo. Em resumo, não aprendem como escutar a criança."

É preciso redefinir o foco familiar. "O verão pode ser um período para os pais se aproximarem mais dos filhos", diz a psicóloga Lulli Milman, do Serviço de Psicologia Aplicada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e autora do livro Cresceram!!! Um guia para pais de adolescentes. E é uma oportunidade para as crianças aprenderem e a família crescer em conjunto.

Para tornar isso uma realidade, educadores e psicólogos indicam as seguintes estratégias:

Mantenha as crianças pensando.
Numa revisão de cerca de 30 anos de estudos, Harris Cooper, psicólogo da Universidade de Missouri-Colúmbia, verificou que, independentemente de raça ou sexo, as crianças perdem em um verão normal cerca de um mês do que aprendem no ano anterior. E Stephen Ceci, da Universidade de Cornell, diz que as crianças parecem perder em média um ponto em Q.I. As perdas não são permanentes, mas as provas parecem mostrar que um verão sem estímulos embrutece a mente.
O problema é especialmente sério em matemática e ortografia, e é mais acentuado da 4º série em diante. Comparadas com crianças que tiveram um verão com atividades de aprendizagem, "as crianças que não se exercitam intelectualmente estão em desvantagem quando voltam à escola", explica Cooper. Não se encontram tão preparadas para a aprendizagem quanto as outras.
Para os pais, a solução não é se tornarem substitutos dos professores de matemática, mas sim encontrar meios diferentes de manter o cérebro em atividade e toda a família engajada nisso.
"O verão é a oportunidade perfeita para as crianças aplicarem o que aprenderam na sala de aula à vida cotidiana, na brincadeira", observa Edézia Maria de Almeida Gomes, psicoterapeuta do Hospital Universitário da Paraíba e vice-presidente do Conselho Regional de Psicologia.
Comparar preços num supermercado pode aguçar a inteligência das crianças pra os cálculos. Comer pizza também, pois as fatias mostram como trabalhar com frações. Viagens de carro apresentam oportunidades para estudar mapas e geografia. Um dia na praia pode render aulas de português, pois as crianças que estão começando a ler e escrever podem traçar letras na areia.
Outra opção seria as bibliotecas que oferecem programas gratuitos de leitura para as crianças. O importante, dizem Edézia e outros, é os pais planejarem. Procure a professora de seu filho. Peça uma lista de leituras recomendadas ou outro material a ser preparado para o período letivo seguinte. Examine os programas de universidades, zoológicos, museus ou bibliotecas que possam despertar em seu filho o amor ao estudo.
Por vezes as crianças precisam de um pequeno empurrão na direção certa. A executiva Wanderleia Toledo Silva convenceu os filhos Sergio e Guilherme, 10 e 8 anos, a participar de um programa de verão na Biblioteca Municipal Monteiro Lobato em Campinas, São Paulo, onde reside a família. No final das férias, eles tinham lido oito livros cada um. Há três anos participam de um clube de leitura e até mesmo a caçula, Maria de Lurdes, 3 anos, entrou para o programa. "Os mestres louvam essa iniciativa. As crianças cometem menos erros de linguagem e adquirem uma notável capacidade de expressão. A atividade também contribui para torná-las calmas, educadas e inteligentes."
"Os pais devem encorajar os filhos de modo que não fiquem ressentidos nem insatisfeitos, e sim que saibam que os pais se interessam por eles e confiam que façam o que é certo", explica Lulli Milman.
Não exagere
Colônia de férias. Violão. Futebol. Aulas de natação. Qual o mal em dar às crianças uma dieta vasta e variada de atividades? Sobrecarga, conforme descobriram Ana Cristina Lage e seus filhos.
O maior problema das crianças, segundo especialistas, surge quando passam tanto tempo nas atividades organizadas que não sabem mais como manejar o seu tempo livre.
No entanto, é no tempo livre, quando podem brincar, que as crianças têm oportunidade de desenvolver os próprios interesses e a criatividade, segundo Magali Reis, mestre em educação e professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. "As crianças inventam jogos e outras formas de diversão facilmente, sem a ajuda dos adultos. Os pais devem compreender que a liberdade de escolha e a iniciativa fazem com que as crianças tenham maior prazer em seu desenvolvimento."
Além disso, a não ser que os pais reservem tempo para atividades não programadas com os filhos, nunca terão a possibilidade de criar o tipo de recordações de famílias que dão tanta alegria às crianças. Foi o que notou a dentista Maria Luísa Lima Soares, de São Paulo, quando tomou a decisão intempestiva de dirigir 70 quilômetros num dia chuvoso para levar os filhos - 1 ano e 11 meses, 6 e 7 anos - para visitar o Aquário de Ubatuba e o Projeto Tamar, que está ajudando a salvar de extinção as tartarugas marinhas do Brasil.
"Não poderíamos ter planejado essa viagem, pois num fim de semana tínhamos a festa de aniversário de um amiguinho das crianças, no outro meu marido estava viajando a trabalho ou uma das crianças estava doente", diz Maria Luísa. "No fim, as crianças ficaram fascinadas e se divertiram a valer. No aquário, puderam até afagar uma estrela do mar. Gabriela, a caçula, gritava de entusiasmo sem parar quando viu os tubarões. Não queriam ir embora."
Torne o divertimento em família uma prioridade.
Um piquenique, uma brincadeira de pegar ou meia hora olhando as estrelas pode ajudar as famílias ocupadas a se religar e construir o tipo de laços que ajudarão as crianças a enfrentar o ano letivo que têm pela frente.
"Famílias que interagem todos os dias - os pais estimulando a criatividade, o pensamento e a auto-estima - são as que provavelmente terão os filhos mais bem desenvolvidos", diz Magali Reis. Num estudo informal realizado em 1998, Deirdre Madden, professora aposentada de comunicação no Baldwin-Wallace College em Berea, Ohio, e outros pesquisadores, entrevistaram universitários bem-sucedidos sobre o modo como passaram seu tempo livre dos 5 aos 12anos, depois compararam suas atividades com as de jovens problemáticos.
Descobriram que, na infância, os bem-sucedidos faziam mais brincadeiras espontâneas, envolviam-se mais nas tarefas domésticas e em jogos com os pais. Os jovens problemáticos passavam muito menos tempo nas tarefas ou nos jogos em família, e mais tempo sozinhos, diante da TV ou de um videogame.

Colônias de férias de luxo e jogos de computador, ao que parece, não importavam para as crianças. As brincadeiras com os pais , sim - fato que a família Leal Santos, do Rio de Janeiro, pode comprovar. Durante muitos anos os professores de história Maria de Fátima e João Alberto Melo Leal Santos vêm lutando com um orçamento apertado para educar as duas filhas, de 7 e 12 anos. Colônias de férias e viagens com a família são muito caras.
Apesar disso, os Leal Santos encontraram um meio simples de se ligar às filhas. Organizam competições de quebra-cabeças ou vão a museus que oferecem programas gratuitos. "Nossas filhas ficam muito felizes quando estamos juntos. O tempo que passamos brincando com elas faz com que se sintam amadas", diz João Alberto.
Estabeleça responsabilidades.
Muitas vezes, quando os pais estão traçando planos para o verão, procuram exclusivamente divertir os pequenos. Mas os especialistas concordam que planejar um verão pensando apenas em fazer as vontades do filho não ajuda a criança a amadurecer para se tornar um membro interessado e responsável da família ou comunidade.

As crianças realmente bem-sucedidas, dizem os educadores, são as que aprenderam a reservar parte de seu tempo para ajudar outros - seja fazendo tarefas domésticas ou ajudando vizinhos idosos com as compras. Esse é o tipo de educação que ajuda a formar cidadãos melhores.

Os pais falham, dizem os especialistas, é na maneira de apresentar essas responsabilidades. Muitas vezes elas são propostas como castigo em vez de desafio. Pior ainda, os pais muitas vezes ralham com o filho, em vez de se limitarem a determinar um prazo para as tarefas e deixar que a criança resolva quando e como as cumprirá.

Às vezes a criança comete erros - e os pais devem estar preparados para isso. No verão passado, Aluízio Lopes de Brito, professor, delegou a tarefa de tomar conta do jardim a seus filhos, Alan, 11 anos, e Camilla, 5.

"É muito divertido, mas é preciso ser paciente. Nas primeiras vezes, eles puxavam a grama e as flores com o mato, e ficava uma confusão", diz Aluízio. Em vez de se zangar, ele pensou em tornar o erro parte do processo de aprendizagem. "Ter de replantar parte do jardim foi uma lição para eles. Hoje, até já plantaram um pau-brasil."

O advogado Luiz Fernando Lopes Porto, de Minas Gerais, acostumou-se a ver o filho João Guilherme fazer trabalho voluntário durante as férias. Com a turma do colégio, o garoto leva alimentos e brinquedos às comunidades necessitadas no Vale do Jequitinhonha. "Ele recebe mais do que dá. O intercâmbio ampliou seus horizontes, tornando-o socialmente consciente e maduro", diz o pai.

"O contato com o trabalho voluntário promove uma troca muito dinâmica. Aumenta a auto-estima e faz o jovem sentir-se útil e maduro", diz Magali Reis.

É no verão que a maior parte dos pais de criança em idade escolar tem mais tempo para os filhos. Com um pouco de preparação, os pais podem aproveitar esse período para ajudar seus filhos a se tornar mais espertos, criativos e interessados.
Com o hábito da leitura, as crianças cometem menos erros de linguagem e desenvolvem a capacidade de expressão.

Colônias de férias de luxo e jogos de computador são menos
importantes do que as brincadeiras com os pais.

Fonte: Cortesia da Revista Seleções do Reader's Digest - Janeiro/2000 - www.selecoes.com.br

Publicado no Portal da Família em 01/Março/2002

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