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domingo, 8 de agosto de 2010

MONTEIRO LOBATO

Lobato: um expoente brasileiro

Foi Lobato que, fazendo a herança do passado submergir no presente, encontrou o novo caminho criador de que a Literatura Infantil brasileira estava necessitando.
Seu sucesso imediato entre os pequenos leitores ocorreu de um primeiro e decisivo fator: a realidade comum e familiar à criança, em seu cotidiano, é, subitamente, penetrada pelo maravilhoso, com a mais absoluta verossimilhança e naturalidade. Com o crescimento e enriquecimento do fabuloso mundo de suas personagens, o maravilhoso passa a ser o elemento integrante do real. Assim é que personagens "reais" (LúciaPedrinhoD. Benta,Tia Nastácia, etc.) têm o mesmo valor das personagens "inventadas" (EmíliaVisconde de Sabugosa e todas as personagens que povoam o universo literário lobatiano).
A vasta produção de Lobato, na área de Literatura Infantil, engloba obras originais, adaptações e traduções. Dentre os originais estão: "A Menina do Nariz Arrebitado"; "O Saci"; "Fábulas do Marquês de Rabicó"; "Aventuras do Príncipe"; "Noivado de Narizinho"; "O Pó de Pirlimpimpim"; "Reinações de Narizinho"; "As Caçadas de Pedrinho"; "Emília no País da Gramática"; "Memórias da Emília"; "O Poço do Visconde"; "O Picapau Amarelo" e "A Chave do Tamanho".
Nas adaptações, Lobato preocupou-se com um duplo objetivo: levar às crianças o conhecimento da tradição, o conhecimento do acervo herdado e que lhes caberá transformar; e também questionar, com elas, as verdades feitas, os valores e não-valores que o tempo cristalizou e que cabe ao presente redescobrir e renovar. Nesse sentido, merecem destaque: "D. Quixote das Crianças"; "O Minotauro" e a mitologia grega na série "Os Doze Trabalhos de Hércules".
Seu trabalho como tradutor foi extremamente fecundo, foram numerosíssimas as obras importantes traduzidas, das quais merecem especial relevo: "Alice no País das Maravilhas" de Lewis Carroll; "O Lobo e o Mar" de Jack London; "Pollyana" e "Pollyana Moça" de Eleanor Porter; "Novos Contos" de Andersen e "Contos de Fadas" de Perrault.
A genialidade e singularidade de Monteiro Lobato foi mostrar o maravilhoso como possível de ser vivido por qualquer um. Com a mistura do mundo imaginário com a realidade concreta, ele mostra, no mundo cotidiano, a possibilidade de ali acontecerem aventuras maravilhosas que, em geral, só eram possíveis nos contos de fadas, ou no mundo da fábula, e, mesmo assim, vividas por seres extraordinários.
Se há algo que Lobato sempre recusou em seus textos foi o sentimentalismo tão em voga em sua época. Substituiu-o pela irreverência gaiata, pelo humor e pela ironia. Também nas muitas adaptações que fez de livros clássicos da Literatura Infantil, eliminou a sentimentalidade piegas.
Emília é a personagem mais importante para se compreender o universo lobatiano. Ela revela-se como o protótipo-mirim do "super-homem", com sua vontade e domínio, além de exacerbado individualismo. Como intenção de valorização, aparece o espírito líder que caracteriza a boneca, a obstinação com que ela sabe querer as coisas, ou como mantém seus pontos de vistas e opiniões. Positiva, também, são sua incessante mobilidade e sua curiosidade aberta para tudo. Com intenção de sátira dos desmandos sociais, apresenta-se o consciente despotismo com que Emília age em certos momentos.

Biografia

Nasceu em Taubaté, São Paulo, no dia 18 de abril de 1882. Em homenagem ao seu nascimento, neste dia comemora-se o Dia Nacional do Livro Infantil.
Era filho de José Bento Marcondes Lobato e Olímpia Augusto Lobato. Seu nome verdadeiro era José Renato Monteiro Lobato, mas em 1893 o autor preferiu adotar o nome do pai por desejar usar uma bengala do pai que continha no punho as iniciais JBML.
Juca, apelido que Lobato recebeu na infância, brincava em companhia de suas irmãs com legumes e sabugos de milho que eram transformados em bonecos e animais, conforme costume da época. Uma forte influência de sua própria experiência reside na criação do personagem Visconde de Sabugosa.
Ainda na infância, Juca descobriu seu gosto pelos livros na vasta biblioteca de seu avô. Os seus prediletos tratavam de viagens e aventuras. Ele leu tudo que lá existia, mas desde esta época incomodava a ele o fato de não existir uma literatura infantil tipicamente brasileira.
Um fato interessante aconteceu ao então jovem Juca, no ano de 1895: ele foi reprovado em uma prova oral de Português. O ano seguinte foi de total estudo, mergulhado nos livros. Notável é o interesse de Lobato escritor no que diz respeito à Língua Portuguesa, presente em alguns de seus títulos. É na adolescência que começa a escrever para jornaizinhos escolares e descobre seu gosto pelo desenho.
Aos 16 anos perde o pai e aos 17 a mãe. A partir de então, sua tutela fica a encargo do avô materno, o Visconde de Tremembé. Formou-se em Direito pela faculdade de seu estado, por vontade do avô, porque preferia ter cursado a Escola de Belas-Artes. Esse gosto pelas artes resultou em várias caricaturas e desenhos que ele enviava para jornais e revistas.
Em 1907, 3 anos após sua formatura, exerceu a promotoria em Areias, cidadezinha do interior. Retirou-se depois para uma fazenda em Buquira que herdou do avô, falecido em 1911. Este município, onde surgiu um Lobato fazendeiro, recebeu seu nome em sua homenagem.
Casou-se com Maria Pureza da Natividade, em 28 de março de 1908. Do casamento vieram os quatro filhos: Edgar, Guilherme, Marta e Rute.
Em 1918 lançou Urupês, e o êxito fulminante desse livro de contos colocou-o numa posição de vanguarda. Neste mesmo ano, vendeu a fazenda e transferiu-se para São Paulo, onde inaugurou a primeira editora nacional: Monteiro Lobato & Cia. Até então, os livros que circulavam no Brasil eram publicados em Portugal. Por isso, as iniciativas de Lobato deram à indústria brasileira do livro um impulso decisivo para sua expansão.
Em 1926, foi nomeado adido comercial da embaixada brasileira nos Estados Unidos, de onde trouxe um notável livro de impressões: América. Usou, assim, suas principais armas em prol do nacionalismo no tocante à exploração de ferro e petróleo no Brasil: os ideais e os livros.
Preocupado com o desenvolvimento econômico do país, chegou a fundar diversas companhias para a exploração do petróleo nacional.. O fracasso dessa iniciativa deu-lhe assunto para um artigo: O Escândalo do Petróleo. Já sob o Estado Novo, sua persistência em abordar esse tema como patriota autêntico valeu-lhe três meses de prisão.
No público infantil, Lobato escritor reencontra as esperanças no Brasil. Escrever para crianças era sua alegria, por isso adorava receber as cartinhas que seu pequenino público escrevia constantemente. Achava que o futuro deveria ser mudado através da criançada, para quem dava um tratamento especial, sem ser infantilizado. O resultado foi sensacional, conseguindo transportar até hoje muitas crianças e adultos para o maravilhoso mundo do Sítio do Picapau Amarelo.
Faleceu em São Paulo, no dia 4 de julho de 1948, aos 66 anos de idade, por causa de um derrame.
obra lobatiana é composta por 30 volumes. Tem um lugar indisputável na literatura brasileira como o Andersen brasileiro, autor dos primeiros livros brasileiros para crianças, e também como revelador de Jeca Tatu, o homem do interior brasileiro.
Apesar de ter sido, em muitos pontos, o precursor do Modernismo, a ele nunca aderiu. Ficou conhecida a sua querela com modernistas por causa do artigo "A propósito da exposição Malfatti". Ali critica a mostra de pintura moderna da artista, que caracterizava de não nacional.

Personagens do Sítio

Monteiro Lobato desenvolveu 6 personagens fixos: NarizinhoPedrinhoDona BentaTia NastáciaVisconde e Emília. Junto com esses personagens aparecem envolvidos nas aventuras os personagens ocasionais. Todos eles são fundamentais e importantes para a criação desse universo infantil, sem haver diferenciação de importância para a narrativa.
A autonomia dos personagens de Lobato é uma de suas marcas principais. Eles propõem os problemas e tarefas e eles próprios impõem as realizações e os objetivos a serem alcançados, ficando nos limites do possível de cada um. Os heróis buscam ser, realizar seus desejos e não o ter comprometido com o consumismo. O que se opõe aos heróis, o grande vilão do homem, não é um personagem e sim o desconhecido e o desafio de desvendá-lo.
As aventuras vividas em grupo dependem da colaboração de cada personagem em especial, formam um grupo em prol de um mesmo objetivo. Cada um traz sua colaboração: Visconde oferece sua intelectualidade, Dona Benta a experiência de vida, Emília traz sua esperteza e assim por diante.

Narizinho

Lúcia, a menina do Narizinho arrebitado, mora com D. Benta. É descrita como uma menina inteligente e meiga.
"Narizinho tem sete anos, é morena como jambo, gosta muito de pipocas e já sabe fazer uns bolinhos de polvilho bem gostosos" (apresentação da personagem em Reinações de Narizinho)

Pedrinho

Vive na cidade e escreve cartas à prima programando as aventuras de suas esperadas férias no Sítio. "Pedrinho não podia compreender férias passadas em outro lugar que não fosse no Sítio do Picapau Amarelo" (Viagem ao céu). Tão corajoso que não tinha nem medo de onça, curioso e com espírito aventureiro.

Dona Benta

Seu nome completo é D. Benta Encerrabodes de Oliveira. Avó ideal, divertida sem deixar de ser educadora. Inteligente e culta, enérgica e compreensiva, sensata e carinhosa, realista mas capaz de aceitar as mais fantásticas brincadeiras.

Tia Nastácia

Símbolo idealizado da raça negra, afetuosa e humilde. A habilidosa senhora vive fazendo o sinal da cruz e dizendo para tudo: "Credo!"
Alguns chamam Lobato de racista por criar essa personagem preta e ignorante. Entretanto, dentro do universo literário, não há preconceito racial, uma vez que Tia Nastácia é respeitada e querida por todos, apesar de ter seu lugar delimitado.

Visconde de Sabugosa

Foi criado pelas hábeis mãos de Tia Nastácia, a partir de um sabugo de milho. O pavor dele são as galinhas, por ter tomado umas bicadelas nos botões de sua casaca. Pegou bolor e morreu, mas Emília guardou o sabugo e Tia Nastácia fez outro novinho. Obediência servil aos mandos de Emília, que não respeita sua sabedoria e nobreza. Uma representação da crítica ao adulto culto e professoral.

Emília

Também veio das mãos de Tia Nastácia. Não falava como qualquer boneca, mas engoliu uma pílula falante dada pelo Dr. Caramujo e abriu a torneirinha.
Única personagem que evolui no universo lobatiano, sendo fundamental para a sua compreensão. A boneca mostra-se como um protótipo mirim do super-homem e representa os desmandos capitalistas (ela ordena).
Com sua vontade de domínio e exacerbado individualismo, é obstinada em conseguir as coisas e mantém seu ponto de vista ou opinião. Transbordam seu espírito de liderança e a curiosidade aberta.
Por ser boneca e não gente, pode apresentar todos os pecados infantis: malcriação, egoísmo infantil, rebeldia, birra, teimosia, interesse e certa maldade ingênua.

Obra

1918 - Saci-Pererê: resultado de um inquéritoUrupês (contos) e Problema Vital (artigos)
1919 - Cidades mortas (contos e impressões) e Idéias de Jeca Tatu
1920 - Negrinha (contos) e A menina do narizinho arrebitado (livro adotado em escolas primárias)
1921 - A onda verde (artigos jornalísticos), Fábulas de NarizinhoO Saci e Narizinho Arrebitado
1922 - O marquês de Rabicó e Fábulas
1923 - O macaco que se fez homem (contos), O mundo da lua (sob o pseudônimo Hélio Pruma) e Contos escolhidos
1924 - A caçada da onçaJeca Tatuzinho O garimpeiro do rio das Garças
1927 - As aventuras de Hans Staden e Mister Slang e o Brasil
1928 - O noivado de NarizinhoO Gato FélixAventuras do Príncipe e A Cara de Coruja
1929 - O irmão de Pinocchio e O Circo de Escavalinho
1930 - A Pena de Papagaio e Peter Pan
1931 - FerroO pó de pirlimpimpimAs reinações de NarizinhoRobinson Crusoé (adaptação) e Alice no país das maravilhas (adaptação)
1932 - AméricaViagem ao CéuContos de Andersen (adaptação) e Contos de Grimm (adaptação)
1933 - Na antevésperaHistória do mundo para as criançasAs caçadas de Pedrinho e Novas reinações de Narizinho
1934 - Emília no país da gramáticaContos de Fadas (adaptação de Charles Perrault)
1935 - Contos levesAritmética da EmíliaGeografia da Dona Benta e História das invenções
1936 - Dom Quixote das criançasMemórias da Emília e O escândalo do petróleo
1937 - O poço do ViscondeSerões de Dona BentaHistórias de Tia Nastácia e As viagens de Gulliver (adaptação)
1938 - O museu da Emília (peça de teatro)
1939 - O Picapau Amarelo e O Minotauro
1940 - Contos pesados
1941 - A reforma da natureza e O espanto das gentes
1942 - A chave do tamanho
1943 - Urupês, outros contos e coisas
1944 - A barca de Gleyre (40 anos de correspondência literária) e Os doze trabalhos de Hércules (12 volumes)