Por anos, o ditado foi patrimônio do professor: um texto ou uma lista  com o propósito de avaliar se a turma sabia escrever de acordo com as  regras da ortografia. Isso mudou - tanto nos objetivos como na forma.  Hoje, uma das quatro situações didáticas previstas pelos principais  programas oficiais de alfabetização inicial é pedir que os alunos  produzam textos oralmente para se perceberem capazes de escrever antes  de estarem alfabetizados. Livres de questões relacionadas à grafia e ao  sistema de representação, eles se concentram nos desafios da produção do  texto: a definição do conteúdo, a adequação a um gênero e a organização  da linguagem escrita. 
"É importante criar espaços para que as  crianças usem a linguagem escrita antes de ler e escrever, pois o  conhecimento do sistema alfabético não é pré-requisito para a produção  de texto, ou seja, não é preciso saber grafar as letras para organizar  as ideias tal como se escreve", explica Silvana Augusto, formadora do  Instituto Avisa Lá e professora do Instituto Superior de Ensino Vera  Cruz, ambos em São Paulo. A criança que não sabe escrever de forma  convencional está diante de uma situação-problema que permite a ela  observar o desenvolvimento de seu processo de aprendizagem e da  compreensão da linguagem escrita.
A elaboração de um texto vai muito além do registro gráfico. Durante o  ditado para o professor, os alunos comandam a produção do texto no  conteúdo e na forma - por meio das leituras e releituras do que já foi  escrito - e fazem adequações na produção: incluem pausas, ritmo e  velocidade, repetem partes quando necessário e distinguem o que dizem  para ser escrito do que dizem como interlocutores, mudando o tom de voz.  O texto que será grafado pelo professor precisa ter uma função  comunicativa definida (a produção de um bilhete, a recomendação de um  livro lido etc.). Essa situação didática deve fazer parte da rotina da  alfabetização inicial, contemplando diferentes gêneros.
 
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