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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

As trocas que fazem a turma avançar

Trabalhar individualmente ou em grupos exige habilidades diferentes das crianças. Confira como potencializar os ganhos para toda a classe
Rita Loiola (novaescola@atleitor.com.br)

Uma vez definidos os conteúdos que serão trabalhados ao longo do ano e depois de escolhidas as modalidades organizativas, como você viu nas reportagens das páginas anteriores, chegou a hora de saber como usar a interação entre os alunos a seu favor. Durante muito tempo, a garotada era obrigada a ficar em fila, uma carteira atrás da outra. Felizmente, estudos e pesquisas didáticas mostram que determinadas atividades, quando realizadas em grupos, trazem mais benefícios para o aprendizado de todos. Mas essa forma de ambientação da classe precisa ser pensada com antecedência para que os objetivos sejam efetivamente atingidos. Divididos de forma adequada e sob a supervisão do professor, os alunos aprendem na troca de pontos de vista, ganham espaço para criar e passam a testar hipóteses, refazer raciocínios e estabelecer correlações, para construir conhecimentos. "A discussão e a argumentação crítica também são elementos constitutivos da aprendizagem", diz Silvia Gasparian Colello, pesquisadora de Filosofia e Ciências da Educação da Universidade de São Paulo.

Segundo os especialistas, a interação em classe é importante porque é muito diferente para as crianças aprender com o professor (alguém mais velho, que domina os conteúdos) ou com os colegas (que têm a mesma idade e um nível de conhecimento mais próximo). "O grande benefício é essa troca horizontal", resume Regina Scarpa, coordenadora pedagógica de NOVA ESCOLA e da Fundação Victor Civita. A sala pode ser dividida em grupos de dois, três, quatro ou mais estudantes. E é possível experimentar diversas combinações de grupos - inclusive numa mesma aula. A condição essencial para definir essas divisões é, claro, o que cada um domina e o que precisa aprender. "Os agrupamentos produtivos nascem quando os estudantes têm habilidades próximas, mas diferentes. Assim, os dois têm a chance de complementar o que já sabem individualmente e avançar juntos", completa Regina.

Foi o pensador russo Lev Vygotsky (1896-1934) quem percebeu que as interações sociais são impulsionadoras do conhecimento, pois a aprendizagem só se consuma quando intermediada pelo outro. No entanto, esse embate com opiniões diferentes gera conf litos. Mas essas faíscas, longe de serem enquadradas como indisciplina, podem ajudar a melhorar a qualidade do aprendizado. Essa é uma das formas de ensinar estratégias de resolução de problemas, baseada no respeito e na solidariedade. O professor pode prever em seu planejamento explicações sobre o jeito de cada um administrar seu tempo, falar e olhar o mesmo assunto. E considerar que essa diversidade está presente em todas as salas de aula.

Ao assumir uma postura mais ativa, o aluno não só aprende como também desenvolve valores sociais importantes: o respeito, a compreensão e a solidariedade, o saber ouvir e falar. Conviver, relacionar-se com o próximo e trabalhar em equipe são habilidades fundamentais para o mundo de hoje, dentro e fora da escola. E as atividades em grupo permitem ao estudante acolher o ponto de vista alheio. "Colocando-se no lugar do outro, o ser humano descobre que existem novos jeitos de lidar com o mundo", diz Silvia. "E é dessa maneira que avançamos no conhecimento."

O primeiro passo: conhecer as características dos alunos

Planejar atividades em grupo exige que o educador conheça bem a turma com a qual trabalha. As crianças, naturalmente, descobrem afinidades - mas nem sempre isso tem a ver com os objetivos de trabalho. "Daí a importância desse trabalho de identificar o momento em que cada estudante se encontra", afirma Adriana Laplane, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e autora do livro Interação e Silêncio na Sala de Aula.

Alternando os parceiros de trabalho, todo aluno acaba por experimentar papéis diferentes, sobretudo no que diz respeito à habilidade de ter mais jogo de cintura para defender suas ideias e aceitar as dos outros. "Uma criança tímida pode se tornar líder quando uma área que domina entra em jogo. Assim, o professor consegue quebrar o esquema de forte/fraco da sala e faz com que todos tenham mais voz", explica Adriana. Vale lembrar que é melhor agrupar crianças com perspectivas diferentes sobre o mesmo assunto. "O ideal é mesclar características complementares para que todos se ajudem e aprendam mais."

Mas é importante levar todos esses critérios em conta. "As escolhas livres, baseadas em afinidades afetivas, não podem ser a regra", afirma Maria das Graças Bregunci, pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da Universidade Federal de Minas Gerais. "Se desejamos formações para o trabalho pedagógico efetivo, as escolhas precisam ser intencionais e reguladas pela natureza da tarefa ou as competências diferenciadas dos estudantes", diz. Com isso em mente, não sobra ninguém sem parceiro.

Só há interação de verdade com troca de conhecimento

Um dos aspectos em que Olga Maria Cabral, professora do 6º ano na EM Virginius da Gama e Melo, em João Pessoa, costuma pensar na hora de formar as turmas é o tempo disponível para a atividade. Ela começa expondo os temas a tratar, discute as linhas gerais e coloca os estudantes para trabalhar. Olga sabe é que para os grupos funcionarem é essencial atentar para o modo como os jovens desenvolvem as atividades. A interação não é a simples reunião de pessoas. São situações reais de troca e parceria. Se o aprendizado não é compartilhado, não houve interação de verdade.

Darli Collares, especialista em Psicologia da Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, diz que a verdadeira lição de convivência proporcionada pela interação é a perspectiva de ter de renunciar a um ponto de vista em favor do trabalho comum. "Numa atividade desse tipo, todos têm de se comprometer a realizar algo para o coletivo", ensina. É dessa forma que o aluno ganha autonomia, começa a tomar decisões próprias e aprende a argumentar, sentindo-se confiante para se posicionar em relação ao conhecimento - tanto quando está sozinho como no meio do grupo.

Temas de História ou Geografia são bons exemplos para ilustrar essa diversidade. Ao tratar da escravidão durante o período colonial, é fácil encontrar textos, imagens e músicas com visões divergentes sobre o tema. Com a turma separada em trios ou quartetos, cada grupo pode discutir um aspecto do assunto, com base em uma parte do material disponível. Em seguida, a classe se reúne para discutir essas interpretações divergentes - e, com isso, abrir a cabeça de todos. Ao perceber a multiplicidade de abordagens, o jovem consegue observar melhor que cada um percebe o mundo do seu jeito.

"Melhor que evitar as discussões é aproveitar essas oportunidades para assimilar as diferenças e compreender e respeitar os colegas", diz Ana Maria de Aragão Sadalla, da Faculdade de Educação da Unicamp. Esses aspectos sociais são tão importantes quanto o conteúdo. Afinal, é preciso compreender que o simples fato de surgirem diferentes pontos de vista sobre um assunto não significa, necessariamente, que os alunos desenvolvam uma mudança conceitual e avancem na aprendizagem. Como escreveu a especialista argentina Mirta Castedo, "os conflitos que nascem nesse contexto nem sempre resultam em benefícios cognitivos". No entanto, não há dúvida de que esse tipo de interação entre os jovens gera, sim, condições para que (devidamente orientados e supervisionados) todos aprendam mais.

Divididos de forma adequada e sob supervisão, os jovens são confrontados com diferentes pontos de vista, criam e testam hipóteses, refazem raciocínios e estabelecem correlações. E assim aprendem mais. Nesse percurso, o fundamental é descobrir o que cada um já sabe para alcançar os objetivos.

TRABALHO INDIVIDUAL

Quando a atividade requer mais tempo para ser realizada
Se o professor quer que o aluno evolua em uma capacidade fazendo uma atividade mais direcionada ao seu grau de aprendizagem específico
Quando a atividade serve apenas para avaliar o grau de aprendizagem daquele aluno
TRABALHO EM DUPLA

Se é necessário aliar dois conhecimentos distintos para uma atividade, pode-se juntar alunos que possuam cada um deles
Pode-se explorar as variações de níveis de aprendizagem para que os alunos evoluam juntos
Quando as questões de gênero ou sociais geram atritos, o trabalho em dupla ajuda alunos diferentes a se relacionarem para chegar a uma resposta comum
TRABALHO EM TRIO

Estimula o aluno a ter firmeza para eventualmente insistir em seu ponto de vista, contra-argumentando com os colegas
Um estudante fraco se aproxima de outro que sabe mais com a ajuda de um intermediário
Na Educação Infantil, atividades com crianças de várias idades ganham com essa diferença de maturidade
TRABALHO EM GRUPO (Quatro alunos ou mais)

Quando a temática é abrangente, ele vale para que os alunos aprendam de forma mais complexa a dividir tarefas
Pode-se exigir mais da capacidade argumentativa, já que o professor consegue montar grupos com alunos que tenham raciocínios bem diferentes
Temas complexos e polêmicos se desenvolvem melhor quando o debate é ampliado
Quer saber mais?

BIBLIOGRAFIA
Aprendizagem Escolar e Construção do Conhecimento, César Coll e Emília de Oliveira Dihel, 159 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-7033444, 46 reais
Interação e Silêncio na Sala de Aula, Adriana Friszman de Laplane, 127 págs., Ed. Ijuí, tel. (55) 3332-0222, 15 reais
Ser Professor É Ser Pesquisador, Fernando Becker e Tania B. I. Marques, 136 págs., Ed. Mediação, tel. (51) 3330-8105, 32 reais
Sobre Pedagogia, Jean Piaget, 262 págs., Casa do Psicólogo, tel. (11) 3034-3600, 32 reais

Escrita profissional: a importância dos registros feitos pelos professores

Do planejamento à avaliação, a documentação é uma ferramenta indispensável para organizar, analisar e reavaliar a prática docente
Luiza Andrade (novaescola@atleitor.com.br)



O que não falta no dia a dia do professor são oportunidades para colocar ideias e ref lexões no papel - ou na tela do computador. Ao fazer o planejamento, por exemplo, ele pode antecipar o que pretende alcançar em sala e pensar em como trabalhar com o grupo. "Sem essa ref lexão, o docente corre o risco de estar sempre improvisando", diz Paula Stella, coordenadora pedagógica do Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária (Cedac), em São Paulo.

Já ao elaborar registros ou anotações depois das aulas, é possível se questionar sobre o que aconteceu em classe e identificar as conquistas da turma e os conteúdos que ainda precisam ser mais bem trabalhados. “Ao escrever, é inevitável que surjam perguntas sobre se a organização da sala colaborou ou não para atingir os objetivos desejados. O saldo da avaliação serve de base para o planejamento de ações futuras”, afirma Paula. É preciso, porém, diferenciar os vários tipos de registro. Segundo o educador espanhol Miguel Zabalza, “há aqueles com características basicamente burocráticas. São os que contêm apenas os temas abordados, as presenças e as faltas. Seu valor é relativo e têm pouco a ver com a qualidade do trabalho docente”. Os mais interessantes são os que se referem às discussões críticas da turma, apresentam observações sobre o processo de ensino e aprendizagem, reproduzem frases das crianças e reúnem exemplos da produção. “Ou seja, são os que permitem construir o círculo da qualidade de ensino: planejar, realizar, documentar, analisar e replanejar”, completa Zabalza.

Criar um ciclo como esse – em que os registros das aulas alimentam novos planejamentos, dos quais nascem projetos enriquecidos – não é tarefa simples. De acordo com a educadora Madalena Freire, uma das maiores dificuldades é inserir essa prática na rotina como uma tarefa indispensável: “A escrita ref lexiva é uma arma de apuração do pensar. E, para fazê-la, é preciso reservar tempo”. Outro desafio é o uso que se faz dessa documentação. Ela já é válida por si só, mas ganha outra dimensão quando compartilhada com o coordenador pedagógico (leia o quadro abaixo).

Em parceria é melhor

Em cada uma das escritas reflexivas feitas pelo professor, há elementos para que ele cresça como profissional e melhore seu desempenho, desde que elas sejam compartilhadas com um formador que o oriente. Esta é uma das mais importantes funções do coordenador pedagógico: enxergar as conquistas dos membros da equipe e as dificuldades que cada um enfrenta em sala de aula para escolher a melhor maneira de orientá-los. É o que relata Regina Scarpa, coordenadora pedagógica da Fundação Victor Civita (FVC), no livro Era Assim, Agora Não...: “As intervenções que (eu) realizava (como coordenadora pedagógica) tinham como objetivo fornecer aos professores novas informações e critérios para que assim reavaliassem sua prática pedagógica, reinterpretando-a agora com novos referenciais”. Pensando nisso, professores e coordenadores da EM Dr. Euzébio Dias Bicalho, em São Gonçalo do Rio Abaixo, a 84 quilômetros de Belo Horizonte, aproveitam reuniões periódicas para avaliar os registros e colocar melhorias em prática. A professora Edilene Chaves Conazart faz parte do grupo e conta que juntos eles percebem conquistas, limites e obstáculos. Em uma ocasião, a coordenadora pedagógica Arethusa da Costa Carvalho Assis pediu que ela registrasse mais que os alunos falavam durante as atividades. “Depois dessa conversa, os relatórios ficaram mais ricos e foi possível dar mais atenção a conteúdos como a participação das crianças nos grupos e a cooperação entre elas”, conta Edilene. “Senti falta também de relatos sobre as atividades de História e Geografia”, lembra Arethusa. Essa dica serviu para que a professora desse mais atenção a essas disciplinas, já que a tendência dela era propor mais trabalhos com Língua Portuguesa. Juntas elas preparam o gráfico de rendimento dos estudantes e analisam os avanços da turma.

Os registros podem ser: planejamento (atividade permanente, sequência didática e projeto didático), de classe (notas, pautas de observação e diários) e avaliação (relatórios individuais e coletivos). Alguns são mais usados, como os diários, que, pela sua flexibilidade, permitem cobrir diversos propósitos. “Eles podem ser documentos pessoais para descarregar as próprias tensões; um instrumento de observação, que sirva de espaço para documentar as situações interessantes que ocorrem em classe; um dispositivo que auxilie no planejamento do trabalho do professor com o projeto educativo em vigor; ou um recurso de investigação para analisar os dados que se queira estudar”, esclarece Zabalza.

Conheça os vários tipos de registro e a melhor maneira de elaborá-los.

Planejamento

A professora Maria Lima Cena, da 2ª série da EMEF Ângela Bezerra, em Serra Pelada, a 800 quilômetros de Belém, faz o planejamento de todas as aulas. “Comecei a programar o que ia falar aos alunos no encaminhamento das atividades. Enquanto escrevia, previa situações que poderiam acontecer”, conta Maria. De acordo com os objetivos de ensino, é possível prever diferentes modalidades organizativas dos conteúdos:

■ ATIVIDADE PERMANENTE

O que é Trabalho didático realizado regularmente (diária, semanal ou quinzenalmente), como ler para os alunos, organizar rodas de conversa e reservar uma aula da semana para a produção de pinturas e desenhos no ateliê.

Objetivos Familiarizar a turma com um conteúdo e formar hábitos. Ao fazer leituras diárias, por exemplo, as crianças aprendem sobre a linguagem escrita e desenvolvem comportamentos leitores.

Organização Prever objetivos, conteúdos, duração da atividade, materiais necessários e como será feita a avaliação.

Como usar Realizar atividades permanentes não significa fazer sempre a mesma coisa. A proposta deve ser empregada com regularidade durante o ano ou um semestre e oferecer novos desafios (rodas de leitura em que livros cada vez mais difíceis são lidos pelo professor).

■ SEQUÊNCIA DIDÁTICA

O que é Série de atividades envolvendo um mesmo conteúdo, com ordem crescente de dificuldade, planejadas para possibilitar o desenvolvimento da próxima.

Objetivo Ensinar conteúdos que exijam tempo para aprender e aprofundamento gradual, como o reconhecimento das características de uma paisagem brasileira em Geografia, uma série de experiências para observar a ação de micro-organismos em Ciências ou a leitura da obra de um autor em Língua Portuguesa.

Organização Prever a ordem em que as atividades serão propostas, os objetivos, os conteúdos, os materiais, as etapas do desenvolvimento, a duração e a maneira como será feita a avaliação.

Como usar A maioria dos conteúdos exige tempo para aprender. Por isso, a sequência didática é a modalidade organizativa mais presente no planejamento. Escolher os conteúdos mais importantes, organizar a série, garantindo a continuidade, e distribuí-los durante o ano. O número de atividades de cada sequência é variado, assim como o tempo de duração (ambos dependem do objetivo e da resposta da turma às propostas).

■ PROJETO DIDÁTICO

O que é Conjunto de ações para a elaboração de um produto final que tenha uso pela comunidade escolar. Uma de suas características é envolver a turma em todas as etapas do planejamento.

Objetivo Reunir conteúdos abrangentes, atingindo propósitos didáticos e sociais. Um projeto de leitura e escrita, por exemplo, em que os estudantes fazem um livro de receitas ensina a ler e escrever e trabalha com valores nutricionais. Pode ter como meta mostrar à comunidade como aproveitar as frutas regionais.

Organização Prever os momentos de planejamento e de discussão em grupo e os de trabalhos individuais. Colocar justificativas, aprendizagens desejadas,etapas do desenvolvimento, produção, maneiras de divulgar o produto final, duração e avaliação final.

Como usar A duração é variada, mas sempre ocupa dois meses ou mais. Por isso, o ideal é propor um ou dois por ano para cada turma. Desenvolve-se o conjunto das atividades do projeto sem abandonar as atividades permanentes e as sequências didáticas.

Registros de classe

Notas, pautas de observação e diários ajudam a acompanhar o desenvolvimento dos alunos e são uma fonte de aprendizado para o professor. Juliana Diamente, que dá aulas para a 1ª série da EE Professor Flávio Xavier Arantes, em Guarulhos, na Grande São Paulo, elabora pautas de observação ao menos seis vezes por ano: “Com elas, consigo verificar a evolução da turma ao longo do ano e ganho dados para fazer avaliações”. Conheça os modelos de registros de classe:

■ NOTAS

O que são Anotações curtas feitas nas aulas, como frases, comentários dos alunos, perguntas e dúvidas levantadas por eles, conteúdos a serem pesquisados, informações para checagem etc.

Objetivo Lembrar momentos importantes e não perder dados significativos do processo de ensino e aprendizagem.

Organização Deixar sobre a mesa uma prancheta, sulfites e canetas. Não é preciso se preocupar com a ordem nem com a profundidade dos apontamentos.

Como usar Elas serão a base de planejamentos futuros, relatórios mais detalhados sobre projetos ou atividades e dos relatórios de avaliação dos alunos.

■ PAUTAS DE OBSERVAÇÃO

O que são Tabelas de duas ou mais entradas, nas quais aparecem o nome dos alunos e os conteúdos didáticos ou atitudinais a ser observados.

Objetivo Acompanhar a evolução do aprendizado de um ou mais conteúdos ao longo do ano.

Organização Tabular os nomes e os as pectos a serem analisados. Legendar a tabela com conceitos ou cores referentes a um estágio de aprendizagem. Preencher durante ou logo após a atividade.

Como usar De tempos em tempos, é preciso fazer a análise e a comparação das tabelas. Quanto maior a frequência com que elas forem preenchidas e analisadas, mais informações se tem sobre o avanço de cada estudante e mais rápido é possível fazer intervenções.

■ DIÁRIOS DE AULA

O que são Narrativas sobre o que aconteceu na sala de aula, tanto em relação a comentários e produções dos alunos como em relação a si mesmo (impressões e ref lexões).

Objetivos Ref letir sobre o planejamento e sua adequação às necessidades dos alunos, ter pistas sobre os rumos que se pode tomar, documentar o trabalho feito com a turma e aprofundar ideias para serem usadas no futuro.

Organização Ter um caderno reservado para o diário (ou um arquivo no computador) e escrever nele logo depois da aula, ou nos dias posteriores, para que os fatos não sejam esquecidos. O mais importante é registrar o maior número possível de dados, sempre ref letindo e avaliando a prática pedagógica e não apenas listando as atividades.

Como usar Uma das principais utilidades é o compartilhamento com o coordenador pedagógico, que poderá, com base nas ref lexões do docente, ajudar a reavaliar sua prática pedagógica. O ideal é escrever com frequência e recorrer aos diários quando planejar e avaliar.

Avaliação

Reunir o material produzido por cada aluno e relembrar as vivências em sala para fazer um relatório requer dedicação. A professora Simone Figliolino, da EMEF Zilka Salaberry de Carvalho, em São Paulo, vê nesse documento que prepara regularmente para mandar aos pais uma forma de relacionar a teoria com a prática: “Depois de algum tempo, retorno a eles e aprendo com as situações”.

■ RELATÓRIO

O que é Avaliação do desempenho de uma criança ou do grupo durante um determinado período.

Objetivo Documentar o desempenho dos estudantes para comunicar às famílias as aprendizagens.

Organização Pautas de observação, notas e diários são fundamentais na hora de elaborar os relatórios. Nas escolas onde não há um modelo, uma dica é começar com um breve relato do que foi trabalhado com a turma naquele período. Em seguida, para cada aluno, relatar como foi o avanço global em relação aos objetivos iniciais. Vale lembrar que elementos como falas e desenhos enriquecem o registro e facilitam o diálogo com a família. O coordenador pedagógico deve aparecer como corresponsável pelo documento, com quem o professor compartilha o material e ref lete sobre ele.

Como usar Cada escola trabalha com uma periodicidade para enviar a avaliação aos pais – bimestral, trimestral ou semestralmente. Em todos os casos, é preciso começar a produção dos relatórios com antecedência, pois o detalhamento requer tempo e reflexão.

Reportagem sugerida pelas leitoras

CRISTIANE GIULI, São Paulo, SP, e MARIA APARECIDA DA SILVA, Marília, SP.

Envie você também uma sugestão de pauta para o e-mail novaescola@atleitor.com.br
Quer saber mais?

CONTATOS
Casa do Professor São Gonçalo do Rio Abaixo, R. Augusto Pessoa, 56, 35935-000, São Gonçalo do Rio Abaixo, MG, tel. (31) 3833-5218
Casa do Professor Serra Pelada, Av. Nova República, s/nº, 68523-971, Serra Pelada, PA, tel. (94) 3314-2004
EE Professor Flávio Xavier Arantes, R. Miguel Fernandes Maldonado, 57, 07143-222, Guarulhos, SP, tel. (11) 6402-2026
EMEF Zilka Salaberry de Carvalho, R. Antônio da França e Horta, 35, 02652-110, São Paulo, SP, tel. (11) 2258-1001
Madalena Freire, madalenafreire@gmail.com
Miguel Zabalza, zabalza@usc.es
Paula Stella, paula@escolaquevale.org.br

BIBLIOGRAFIA
Diários de Aula – Um Instrumento de Pesquisa e Desenvolvimento Profissional, Miguel Zabalza, 160 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444, 36 reais
Era Assim, Agora Não..., Regina Scarpa, 128 págs., Ed. Casa do Psicólogo, tel. (11) 3034-3600 , edição esgotada
NOVA ESCOLA Planejamento, edição especial já à venda nas bancas, 4,80 reais
Ensinar bem é... saber planejar
O planejamento deve estar presente em todas as atividades escolares. Improvisos às vezes acontecem, mas não podem virar regra

O planejamento é a etapa mais importante do projeto pedagógico, porque é nela que as metas são articuladas às estratégias e ambas são ajustadas às possibilidades reais. Existem três tipos de planejamento escolar: o plano da escola, o plano de ensino e a sequência ou projeto didático. O primeiro traz orientações gerais que vinculam os objetivos da escola ao sistema educacional mais amplo. O plano de ensino se divide em tópicos que definem metas, conteúdos e estratégias metodológicas de um período letivo. A sequência didática é a previsão de conteúdo de um conjunto de aulas e o projeto um trabalho mais longo e complexo.

O planejamento escolar é um processo de racionalização, organização e coordenação da atividade do professor, que articula o que acontece dentro da escola com o contexto em que ela se insere. Trata-se de um processo de reflexão crítica a respeito das ações e opções ao alcance do professor. Por isso a idéia de planejar precisa estar sempre presente e fazer parte de todas as atividades — senão prevalecerão rumos estabelecidos em contextos estranhos à escola e/ou ao professor.

Para José Cerchi Fusari, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, não há ensino sem planejamento. "Se a escola é o lugar onde por excelência se lida com o conhecimento, não podemos agir só com base no improviso", diz. "Ensinar requer intencionalidade e sistematização." O poder de improvisação é sempre necessário, mas não pode ser considerado regra.

Trabalho coletivo

Planejar é um ato coletivo que envolve a troca de informações entre professores, direção, coordenadores, funcionários e pais. Isso não quer dizer que o produto final venha a ser um documento complicado. Ao contrário, ele deve ser simples, funcional e flexível.

E não adianta elaborar o planejamento tendo em mente apenas alunos ideais. Avalie o que sua turma já sabe e o que ainda precisa aprender. Só assim você poderá planejar com base em necessidades reais de aprendizagem.

Esteja aberto para acolher o aluno e suas circunstâncias. E, é claro, para aprender com os próprios erros e caminhar junto com a classe.

Planejar requer:

pesquisar sempre;
ser criativo na elaboração da aula;
estabelecer prioridades e limites;
estar aberto para acolher o aluno e sua realidade;
ser flexível para replanejar sempre que necessário.
Leve sempre em conta:

as características e necessidades de aprendizagem dos alunos;
os objetivos educacionais da escola e seu projeto pedagógico;
o conteúdo de cada série;
os objetivos e seu compromisso pessoal com o ensino;
as condições objetivas de trabalho.
Com base nisso, defina:

o que vai ensinar;
como vai ensinar;
quando vai ensinar;
o que, como e quando avaliar.

tabela numérica

Objetivos
• Identificar números até 100.
• Ler, escrever e comparar números em diferentes contextos de uso.

Conteúdos
• Ordem de grandeza e regularidade do sistema de numeração.
• Leitura e escrita numérica.

Anos
1º ano

Tempo estimado
Em todos os bimestres/trimestres do ano - atividade permanente.

Material necessário
• Um cartaz como o modelo acima, que vá até 100, deve ser afixado para servir de "dicionário" e ser consultado.
• Faça algarismos simples, sem desenhos e bem separados.
• Providencie uma cópia menor para cada aluno e objetos com sequência numérica (fita métrica, calendário ou volantes da Mega Sena).
• As primeiras tabelas devem começar com 1 e não com 0, pois muitos alunos se apoiam na contagem para encontrar as escritas que não conhecem.
• Organize a série de 10 em 10 para a identificação das regularidades.



Desenvolvimento
1ª etapa
Proponha ao longo do ano atividades envolvendo ordenação de números escritos de diferentes grandezas.
Peça, por exemplo, que os pequenos pesquisem em casa a idade de seus familiares e depois, em sala de aula, ordenem os números coletados na família para determinar quem tem o pai mais velho e o mais novo.
Aos alunos que ainda fazem a escrita invertida, mostre a sequência na parede ou na fita métrica, no calendário etc. Apenas corrigir ou fazê-los copiar várias vezes não resolve o problema.

2ª etapa
Organize uma série de fotos de uma mesma região, mas de diferentes épocas, e anote no verso a data em que foram tiradas. A turma terá de descobrir qual é a mais antiga e a mais recente.

3ª etapa
Outras atividades de ordenação podem ser elencadas. Leve os alunos para dar uma volta e peça que anotem a numeração dos prédios de um trecho da rua. Na classe, proponha que comparem os números, verificando o que muda de um para o outro e se há regularidade.

Avaliação
Promova variadas situações em que os pequenos terão que ler, comparar e registrar números.

trabalhando com calendário na educação infantil

Cada dia é sempre um novo dia
Faixa etária
4 e 5 anos

Conteúdo
Matemática

Objetivos
- Aprender sobre o funcionamento dos números num contexto específico: o calendário;
- Familiarizar-se com uma forma particular de organizar a informação, identificando a passagem do tempo apoiado no calendário;
- Utilizar o calendário como forma de organizar acontecimentos e compromissos comuns ao grupo, interpretando a série numérica, compreendendo certas regularidades das medidas de tempo, como dia, mês e ano.

Conteúdos
- Utilização dos números em diferentes contextos;
- Início da medição social do tempo;
- Localização, leitura, interpretação de informação matemática em calendários.

Tempo estimado
As atividades propostas aqui podem se desenvolvidas ao longo do ano, de forma sistemática: diariamente, uma vez por semana, etc.

Material necessário
calendário tipo folhinha com uma página para cada mês

Desenvolvimento das atividades
As crianças vêem todos os dias calendários que contem informações de uso habitual, cabe à escola ampliar e sistematizar essas experiências para que todas as crianças possam dar sentido a uma prática.

O calendário pode ser utilizado para aprender sobre o tempo, mas também como fonte de informação e pesquisa para a leitura e registro de números.

Há diferentes tipos de calendários utilizados socialmente (folhinhas anuais, mensais, semanais) que podem ser utilizados com diferentes funções na escola. As atividades a seguir estão centradas na análise do modelo mais clássico e conhecido.

Atividade 1 – apresentação do calendário: localização da data
Leve um calendário tipo folhinha para a roda do grupo. Pergunte quem tem um calendário parecido com esse em casa e como é utilizado. Explique que poderão consultá-lo em diferentes momentos: para colocar a data em alguma tarefa, para saber a dia do aniversário dos colegas, do passeio que a turma realizará ou ainda quando precisarem escrever algum número que não conheça.

Diariamente, uma das crianças (o ajudante do dia) será a responsável em localizar a data no calendário e escrevê-la na lousa para que seus colegas possam anotá-la em seus trabalhos. Inicialmente, é provável que você precise ajudar as crianças nessa tarefa, porém, é importante que progressivamente passem a realizar essa tarefa sozinhas, ganhando autonomia.

Encontrar e copiar a data, saber o dia, são atividades interessantes que acontecem ao longo do ano, no entanto, sabemos que aquilo que se faz rotineiramente perde o sentido e deixa de ser um problema para as crianças resolverem. Se você propõe, por exemplo, que a criança “marque no calendário o dia de hoje com um X”, no dia seguinte, para encontrar o número desejado, bastará olhar para o número que está logo depois do X. Desta forma, uma atividade que poderia ser rica e desafiadora transforma-se numa atividade mecânica que não beneficia a aprendizagem. Quando as crianças necessitam encontrar um número no calendário que não tem essas marca precisam colocar em ação diferentes procedimentos .

Atividade 2 – marcar a data de aniversário das crianças do grupo
Leve o calendário para o centro da roda e ajude as crianças a marcarem a data de aniversário de cada uma. É possível que as crianças ainda não saibam as datas de seus aniversários, portanto, é importante que você consulte previamente as ficha de matricula de cada criança ou pergunte aos os pais ou responsáveis o dia do aniversário de seu filho.

Posteriormente, monte um quadro de aniversariantes da sua classe: coloque o nome, a data do aniversário e a idade de cada um.

Com o quadro pronto você pode propor questões como: “quantas crianças fazem aniversário no mês de março?” “qual o mês que tem a maior quantidade de crianças fazendo aniversário?”

Atividade 3 – marcar e organizar as atividades e acontecimentos da rotina escolar
O calendário é um instrumento importante também para organizar a rotina escolar. Novamente leve o calendário para a roda (você pode fazer essa proposta todo início de mês) e ajude as crianças a marcarem os acontecimentos e compromissos importantes do grupo para o ano – feriados, eventos organizados na escola, passeios, etc.

Atividade 4 – situações problema envolvendo a observação de características e regularidades das informações presentes no calendário
Além da utilização do calendário como instrumento organizador dos acontecimentos e atividades do grupo como, marcar compromissos importantes do grupo, averiguar que dia será o seguinte, localizar as datas de aniversários das crianças, é possível, vez por outra, utilizá-lo para para calcular durações. Por exemplo: quando se deseja saber quantos dias faltam para um passeio, para um aniversário, quantos dias terão para ensaiar uma apresentação que estão preparando ou quantos dias se passaram desde que começou o mês. Você precisará contar junto com as crianças ou colocar uma situação problema para que resolvam.

Você pode propor situações do tipo: “Quantos dias faltam para o passeio para o jardim zoológico?” “Vocês já sabem que ensaiamos toda terça-feira. Então, quantos dias teremos para ensaiar a quadrilha?” “Propor que seus alunos observem a lua no céu durante certo período e marquem no calendário a data em que ela muda de fase .”

As atividades de plantio, como a horta, também permitem trabalhar com a idéia de tempo. Observar qual a melhor época para o plantio de cada semente, calcular quanto tempo será necessário para a planta crescer, marcar os dias de chuva e sol em função da observação do desenvolvimento da planta, fazem parte das tarefas de um “agricultor”.

Avaliação - confecção de um calendário para o ano seguinte
No segundo semestre, depois de já ter trabalhado todo o primeiro semestre com o calendário, você pode propor que as crianças, dividas em grupos, sejam confeccionem um calendário para o ano seguinte.

Para escolher o tema para a ilustração peça que as crianças tragam para escola diferentes calendários e analisem conjuntamente quais são as temáticas de cada um deles. A partir daí cada grupo decide qual será o tema do seu calendário.

Ao confeccionar o calendário as crianças enfrentam problemas relativos a distribuição da informação, suas características e regularidades (sete dias por semana, a quantidade de dias em cada mês, etc.). Por exemplo: Por que a tabela começa sempre com um domingo, mas nem sempre a gente coloca um número ali? Por que alguns dias são vermelhos? Quantas folhas terá o nosso calendário? Para ajudar nessa reflexão você pode propor algumas questões: os meses tem um ano? Quantos dias tem uma semana? Quantas semanas tem um mês? Quantos dias tem cada mês? Quais meses tem 30 dias e quais tem 31? E fevereiro, quantos dias tem? Quantas semanas tem um ano?

Não se esqueça de prever momentos para a produção das ilustrações de cada mês.

Quer saber mais?

BIBLIOGRAFIA
- Diseño Curricular para la Educación Inicial (niños de 2 y 3 años e niños de 4 y 5 años), Gobierno de la Ciudad Autônoma de Buenos Aires, Secretaria de Educación:
http://www.buenosaires.gov.ar/areas/educacion/curricula/inicial.php
- Revista Avisalá, nº 25, janeiro de 2006
- O Ensino dos Números no Nível Inicial e no Primeiro Ano da EGB, Susana Wolman – Letras y Números: alternativas didácticas para jardin de infantes y primer ciclo de la EG, comp: Ana Maria Kaufmann, editora Santillana /Argentina, 2000.